Esses dias, peguei um Uber e eu sempre puxo assuntos aleatórios
com a pessoa. Sou tímido e acho que viajar no carro de um desconhecido muito
esquisito. Puxando assunto, parece que, por aqueles minutos, ganha-se uma
impressão de amizade com a pessoa. Claro
que, se eu puxar assunto e a pessoa não der prosseguimento, eu me calo.
Uma vez, eu peguei um
carro com um garoto que tinha um nome que poderia gerar duas leituras. Tipo “Pedro
Wilson”. Eu entrei no carro e perguntei: “Eu te chamo de Uilson ou de Vilson? Ele
respondeu de forma seca: “Nenhum dos dois: ninguém me chama por esse nome.”
Calei-me o resto da viagem.
A maioria entra na conversa.
Voltando ao início da frase inicial do texto, esses dias, peguei um Uber e, nesse
desenrolar de aleatoriedades, o motorista me contava que trabalhara
anteriormente com liberação de carros que haviam sido guinchados.
Eu indaguei como ele
fazia para manter-se calmo, visto que, normalmente, quem teve seu carro
guinchado, mesmo que tenha dado motivos, vai chegar lá furioso, seja porque
perdeu um compromisso, seja porque teve que perder seu tempo indo até lá, pagar
uma taxa...
Ele me respondeu que, muitas vezes, as pessoas chegavam bem
irritadas mesmo e que ele tinha que ser calmo e firme. Dizer: “O senhor vai ter
que pagar a taxa e voltar aqui que eu libero o veículo.” E não dar mais
conversa. E que às vezes, como único homem no momento, ele ainda tinha que
ajudar as funcionárias mulheres no manejo com esses sujeitos irritadiços.
“E você nunca esteve numa situação em que a pessoa estava tão
nervosa, que você não deu conta?”, perguntei. Tratava-se de um sujeito baixo,
gordinho. A mim não parecia conseguir impor-se tanto com um sujeito muito
grande.
Ele me contou então
que em algumas vezes a coisa apertou muito, que ele teve que ligar para um
amigo dele e perguntar se ele estava próximo. Quase invariavelmente esse
sujeito estava próximo e ia até lá. Tratava-se de um policial militar chamado
Alves, um sujeito de dois metros de altura e grande como um armário. E o Alves resolvia a situação para ele e
intimidava o esquentadinho.
Desse conto malazártico do motorista do Uber, fiquei
pensando que, na vida, poderíamos ter a opção de chamar o Alves algumas vezes.
E o sujeito gigante apareceria lá e nos tiraria de nossa situação de risco. Teríamos
então mais segurança na vida. Nos lançaríamos em empreitadas mais ousadas. Se não
desse certo? Chama o Alves que ele resolve!
Eu digo, usando termos do muay thai, que na vida,
ultimamente, tenho achado que, metaforicamente, se chegar não tão perto é soco;
se chegar perto demais é cotovelada. Um conhecido brincou comigo que de longe
um bom rifle resolve.
Talvez um rifle imaginário e eliminar o que te incomoda,
deixar de se preocupar com aquilo, resolva. É uma idéia.
Chamar nosso Alves interior e nos posicionarmos firmemente
em nossas posições, sem claro desrespeitar o Alves alheio. Lembrar sempre que
cada um tem seu Alves interno e que, às vezes, fazer eles se digladiarem não
resolve nada.