quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Baixa autoestima

Baixa autoestima...
Sabe quando há vinte pessoas para entrar num determinado local. Há apenas dezenove lugares... No momento em que você nota isso você vai embora pois se dá conta de que há haverá lugar para você.
Claro que você poderia acabar sobrando realmente do lado de fora, já que isso acontecerá fatalmente com um. Mas você nem tenta, pois sabe que esse um só pode ser você! Você sequer aventa qualquer outra possibilidade: se há dezenove lugares e vinte pessoas, você obviamente está sobrando!
Outro caso: um conhecido avisa você de que haverá uma festa. Você não vai porque acha que ninguém vai notar sua presença... ou porque não foi devidamente convidado, apenas avisado e achou que o outro não quer na verdade que você vá. Mas você fica a noite inteira pensando: "Ninguém deve ter me notado."
Na verdade você queria que todos tivessem notado sua ausência. Você queria no fundo que ninguém se divertisse porque você não está lá. Você queria, entre as vinte pessoas que ocuparão os dezenove lugares, ser a primeira a ser convidada a entrar.
E, se entrasse, talvez não entrasse mais ninguém, pois seu ego é tão grande que ocuparia certamente todos os outros dezoito lugares!
Sim, meu amigo, se você tem baixa autoestima, provavelmente o seu ego é enorme! Você queria ser o centro do Universo, a razão de toda a Existência. Como não consegue, você se sente o último os últimos. O importante é que seja sempre um lugar de destaque, seja para pior, ou para melhor. Meio termo não é com você, não é mesmo?
O fato é que todo mundo é meio termo nessa vida. Ninguém é top, ninguém é super-ultra-mega-master. Todo mundo é café-com-leite.
Até o melhor dos melhores em Física, por exemplo, deve ser mediano em centenas de outras coisas. O mais rico do Mundo... o mais bonito... o mais forte... todos eles têm tantos traumas, preocupações, dores, dúvias e sofrimentos como todo mundo.
Mas você não, não é mesmo? Você é a pior pessoa do Mundo para lidar com sentimentos...
Não, não é.
Aceite sua medianidade e seja feliz.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Paciência

Ultimamente ando meio sem paciência com muitas coisas... E, quer saber, acho que isso é muito bom. Há coisas para as quais a gente não deve ter paciência mesmo. Chefe chato, pessoas sem educação, mediocridade, mesquinhez, esperar demais em filas de lugares que deveriam ser para diversão (cinema no domingo, por exemplo)... ando sem paciência para todas essas coisas.
Isso não quer dizer que eu ande brigando com meu chefe, xingando pessoas na rua ou coisas do tipo. A gente é obrigado a aturar o chefe... a educação manda não brigar com ninguém sob pena de os grosseiros e sem educação sermos nós mesmos. Até porque sair por aí brigando gera um gasto de energia muito grande... e não vale a pena perder energia por coisas pequenas. Deixemos para brigar por coisas realmente grandes.
A falta de paciência está em não aceitar essas coisas como certas, em poder ver que existem pessoas grosseiras, medíocres e sem educação e que essas pessoas não podem viver bem assim. Tem gente que eu digo que morrerá aos quarenta de enfarto, de tão nervosos que andam. Buzinando, xingando no trânsito em pleno domingo, por exemplo. Na semana, você teria a desculpa (absurda, visto que isso não te fará ganhar mais tempo) de que você está atrasado pro trabalho, que precisa chegar a tempo pra pegar o filho na escola... mas... no domingo??? Nem no domingo algumas pessoas relaxam!
A gente não pode se deixar contaminar por isso. Está atrasado? Sair xingando e bufando pela rua não vai te apressar... Então, fazer o quê? Tentar não se atrasar na próxima vez, de repente, se for possível.
Como eu disse, ando sem paciência. E quero continuar assim. E acho que posso, na maioria das vezes, expressar minha não concordância de forma tranquila... "Desculpe, mas o senhor passou na minha frente. O final da fila é lá." Não sei porque, quando estamos querendo ser educados, a gente muitas vezes se desculpa por algo que temos certeza de não sermos culpados. Admitir uma culpa inexistente nos torna mais polidos,talvez.
O importante é acharmos uma forma de expressarmos nossos sentimentos, o que nos incomoda de forma que não nos machuque, não nos estresse. Eu estou tentando.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Gordo X Magro


Pessoas gordas engordam sozinhas. Pessoas magras engordam os outros. Eu estava pensando nisso,quando, ao receber um pote grande de doce caseiro, resolvi dividi-lo ao meio em outro pote e dá-lo a minha família.
Como gordo em reabilitação que sou,se ficasse com o potão todo, comeria-o inteiro em, no máximo, uma semana. Assim comerei apenas metade nesse mesmo tempo.
Vocês podem notar o que eu estou dizendo: se um magro compra no trabalho um pacote de bolachinhas, ele pergunta pra todo mundo quem quer, divide com as outras pessoas. No final, ele comeu algumas bolachas, matou sua vontade, mas comeu só uma parte do pacote; se um gordo,no entanto, compra o mesmo pacote de bolachinhas, ele come tudo sozinho, não convida nihguém. Se convida, normalmente as pessoas não aceitam, pois percebem que ele as convidou de má vontade.
Se você é ou já foi gordo sabe que gordos são egoístas em relação a comida, mesmo que possam ser extremamente generosos em outras áreas. Comida, para eles, vira um bem precioso, como se fosse um objeto raro, que precisa ser escondido dos outros.
Talvez por isso fale-se que para uma pessoa emagrecer, primeiro ela tem que pensar como magro.
Outra forma de diferenciar um gordo de um magro: numa festa, na qual há aquela mesa cheia de docinhos e salgadinhos e as pessoas vão se servindo. Um gordo fica ao lado da mesa, vai conversando e comendo, conversando e comendo e não para de comer nunca.Para até de conversar... mas não de comer!
Um magro senta-se longe da mesa, pega um salgadinho, senta-se, conversa. Tempos depois aproxima-se da mesa de novo, pega outro salgadinho. Ou então senta-se do lado da mesa, mas pega salgadinhos espaçadamente. Este último caso é para os realmente magros ou com muita força de vontade. A nós gordinhos em tentativa de reablitação ou ex-gordinhos, aconselho sentar-se bem longe de uma mesa de salgadinhos. Sentando-se ao lado deles, você não vai resistir a tentação e vai comer muito mais que conversar.
Gordos têm fixação por comida. Terminam o almoço e estão já pensando no que terá para o jantar. Dormem pensando no café da manhã do dia seguinte. Magro almoça porque está na hora de almoçar... e decide o que vai comer na hora.
Eu, tenho me esforçado para pensar como magro, mas ainda não consegui totalmente. Um dia chego lá.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Máscaras


Você já se sentiu como se tivesse usado sempre uma máscara para esconder sua própria cara? E que usou tanto essa máscara que você próprio começou a achar que era seu rosto verdadeiro?
A gente se esconde do mundo, de mostrar nossa verdadeira face por vários motivos, por exemplo, o medo de se mostrar, o medo de ser julgado, medo de notarem nossos vazios e limitações...
Medo... medo... medo...
Aí chega um dia em que aquela máscara começa a não caber mais no rosto. Como se o rosto tivesse crescido e a gente não coubesse mais ali dentro. Aí a gente se dá conta de que aquela não era nossa face, mas um disfarce pra se esconder.
Aí é preciso afrouxar aquela pele falsa que nos cobre e removê-la, o que acontece de forma gradual... O que não é fácil. Um euzinho lá dentro da gente tenta mantê-la, dizendo se tratar de uma proteção. Mas a máscara não protege nada. Talvez ao contrário nos deixe mais expostos, por nos impedir de conhecermos a nós mesmos e nos tornarmos mais seguros de nossas possibilidades.
Soltar esse disfarce nos faz muitas vezes descobrir que o rosto verdadeiro é muito mais bonito que a maquiagem que o cobre. Quase sempre é assim.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O mundo para!

Copa do Mundo e o mundo para.
Na Copa de 2006 saí mais cedo do meu trabalho em dia de jogo do Brasil e ingenuamente pensei: "Oba! Uma tarde de folga! Vou aproveitar pra ir ao cinema, fazer umas compras..." Ledo engano...
Éramos eu e o vazio na rua... Eu e o nada absoluto...
Cinema fechado... lojas fechadas... as que estava abertas, não te atendiam porque estava vendo o jogo... o que é até pior e mais frustrante do que estar fechada... Resolvi, então voltar pra casa... e custei a fazer isso: não passavam ônibus também na hora do jogo!
Mais uma vez, como em datas como Natal, resolvi deixar de lutar contra o Mundo e resignar-me.
Este ano até assisti a algumas partidas do Brasil... Não inteiras... ligava, via um pedaço, ia pro computador... quando havia algum gol ou jogada mais importante (impossível ficar alheio a isso... parece que o Mundo transpira em gritos e xingamentos) seja do Brasil ou do time adversário, eu ligava novamente a tevê...
No último jogo do Brasil, eu fui almoçar num restaurantes com minha namorada (que, ainda bem, também não é ligada em futebol) e o restaurante estranhamente estava aberto!
Fiquei um pouco sentado no parque (cheguei um pouco antes do horário) e já ouvi o primeiro gol do Brasil através dos gritos das pessoas em um restaurante próximo... Quando há gol do Brasil, parece que o mundo pára... todo mundo fica estático, sem respirar, vitrificado... Aí ouve-se "GOOOOOOOOOOOLLLLL!!!!!" e tudo volta a respirar novamente, só que com novo fôlego...
Já no restaurante, vimos o Brasil perder... Pensei: pena, seria legal ganhar a Copa (sou alienado, mas patriota!), mas pelo menos agora o mundo volta ao normal... para-se de se falar de Copa do Mundo e volta-se a assuntos mais amenos e tranquilos como a novela das oito, o último escândalo de alguma celebridade, o último crime terrível, o Big Brother... mas não! Em qualquer lugar que passo ouço um: "Acho que vai ganhar a Holanda..." ou "Eu torcia para o Uruguai." ou algo assim... Até eu me vi feliz ao saber que, se o Brasil perdeu de 2 a 1, a Argentina fez fiasco maior perdendo de 4 a zero! (Sou antifutebol, mas também antiargentino!)
Outro dia estava na casa dos meus pais e perguntei ao Pai quem tinha ganhado de quem em determinado jogo da Copa... e, eis que para minha surpresa, vi minha mãe discorrer sobre quem tinha e quem não tinha passado de fase... ela sabia todos os resultados dos jogos... Justo minha mãe que, além de não gostar de futebol, fica alheia a assuntos de atualidade e televisão...
A partir de então resolvi: vou colocar pinheirinhos e guirlandas em casa no próximo Natal... Vou vibrar com cada vitória e chorar com cada derrota do Brasil na próxima Copa... Vou discutir ferrenhamente sobre quem deve ganhar o próximo Big Brother... Vou acompanhar novelisticamente o próximo grande crime da vez...
Vou deixar de ser um nabo, alheio ao mundo que me cerca e tentar ser gente um pouco... será que consigo?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Aniversário...

Aniversário...
Quando a gente é criança, é muito divertido. Presentes... bolo... festa... a gente espera feliz pelo dia do aniversário.
Quando a gente vai envelhecendo a festa parece ficar mais sem graça... Primeiro eu preferia esquecer que era meu aniversário. Fingir que é um dia como outro qualquer. O que é verdade, se olharmos bem. Você vai pro trabalho, realiza suas atividades diárias, tudo da mesma forma... só que com aquele peso do "estou envelhecendo" nas costas. Aquele "espero que ninguém se lembre e que o dia passe incólume"... mas ao mesmo tempo triste se as pessoas não lembrarem e você se sentir pouco importante...
Aí eu cheguei à conclusão que fazer aniversário em si é legal. Festa... bolo... estar com os amigos... ser lembrado por pessoas que você às vezes vê pouco... estar com a família... O ruim é envelhecer. Aproximar-se um ano mais da morte é que pesa. A festa em si é legal.
Então desde esse momento decidi que todo ano farei aniversário, mas não farei mais idade. Acho que me ajuda a encarar melhor esse dia... ainda que, fazendo idade ou não, contando anos ou não... envelhece-se igual.
Eu, ao menos paro de contá-los... paro de dar valor ao envelhecer e passo a dar valor ao estar com os amigos, ao ser lembrado por pessoas de quem eu gosto.
Feliz aniversário pra mim... de qualquer idade que seja.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Filho pródigo

Quando eu era criança, ouvia a história do filho pródigo e achava que a palavra pródigo significava "aquele que volta"...
Conta a história que o filho mais novo de um fazendeiro pediu para este dividir seus bens com os filhos, pois queria ir embora. O velho divide os bens e ele parte. Porém perde todos seus bens em seguida e volta pra casa do pai pedindo abrigo. O pai, feliz, manda matar um carneiro para fazer uma festa celebrando a volta do filho. O filho mais velho indaga ao pai o porquê daquela festa. Reclama que para o filho que jogou fora todo o dinheiro da família que lhe foi dado, o pai mata um carneiro, mas para ele, que sempre esteve ali a seu lado, nunca fizera isso. O pai responde que precisava celebrar o filho mais novo que ele contava perdido e recuperara, enquanto o outro sempre estivera ali ao seu lado, não precisava ser celebrado.
Eu achava que ele era pródigo porque voltara para casa, mas o era por ter gastado todos os seus bens. É pródigo por não cuidar daquilo que é seu. A história, como valoriza a volta do filho, não seus atos, me fazia crer que o sentido de "pródigo" era positivo, mas não é.
O que sempre me incomodou nessa história foi a questão do filho mais velho. Concordo que ele erra em se preocupar mais com o carneiro dado ao irmão do que pela volta deste. Mostra-se egoísta nesse aspecto, disso não há dúvidas. Porém a personagem tem uma certa dose de razão. O pai erra por não mostrar ao filho mais velho sua importância. Porque está ao seu lado, porque não tem riscos de perdê-lo, ele não precisa celebrá-lo... e isso não é verdade...
A gente acaba muitas vezes dando valor àquilo que a gente não tem, preocupando-nos com o que nos falta, ou com as grandes aquisições que conseguimos, e esquecemos de valorizar o que está à nossa volta, o que sempre esteve ali ao nosso lado e nos dá sustentação.
O filho mais velho, mesmo estando sempre ali ao lado do pai, também precisa de um carinho, também precisa de um agrado, também precisa ser lembrado do quanto ele é importante. Também necessita ser valorizado. Não é porque não há possibilidades de perdê-lo que ele não necessite de atenção... ou corre-se o risco de tê-lo perdido mesmo ele continuando ali.
O mais novo saiu, gastou tudo, jogou todo o dinheiro fora e voltou pra casa por necessidade, não por amor à família... se seu dinheiro ainda existisse, se tivesse conseguido mais dinheiro em outro lugar, jamais voltaria... só reaproximou-se do pai por interesse. E mesmo assim é celebrado.
Não digo que o pai não devesse receber o filho pródigo de volta. De forma alguma, só creio que ele está celebrando por ter recuperado um filho que perdera, quando, na verdade, não o recuperou, pois este não voltou por saudades do pai, mas pela necessidade de dinheiro.
Como esta, há várias outras fábulas, parábolas e histórias cuja moral me incomoda um pouco, mas dicutirei isso uma outra hora.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Lembranças cachoeirinhísticas

Lembro muito bem desta cena. Na época eu dava aulas em Cachoeirinha. Eram algumas sextas séries. Trabalhava em Esteio de manhã e lá à tarde (não recomendo isso a ninguém). Havia a hora em que os alunos iam ao refeitório comer a merenda. Como nem todos lanchavam, eu não era obrigado a acompanhá-los, então mandava os alunos que iam comer para o refeitório e ficava com os outros em sala.
Numa dessas salas havia um menino chamado Davite (o nome dele deveria ser provavelmente "David", mas a família provavelmente errou ao registrá-lo. Ele, inclusive, assinava-se nas provas como "Deivid", nome que ele gostaria de ter sido... mas não era). Sempre que os alunos voltavam do refeitório, eu tinha reclamações das meninas sobre o indivíduo em questão: "Professor, o Davite mexeu comigo!" "Professor, o Davite entrou no banheiro das meninas!" "Professor, o Davite passou a mão na minha bunda!" E não tinha fim.
Eu sentava com ele quando ele voltava e conversava, explicava, repreendia e nada parecia funcionar: todas as minhas palavras entravam-lhe por um ouvido e saiam pelo outro. Eu achava que ele sequer me escutava.
O dito aluno, em aula, não era agressivo comigo, mas também exigia minha atenção constrante. Se desviasse meus olhos dele por pouco tempo, lá estava ele aprontando.
Lembro que a escola não fornecia matriz e folhas (xerox então nem pensar!!!!) para se fazerem provas e trabalhos então eu tinha que pedi-las aos alunos.
Em um dia qualquer de aula, uma aluna perguntou: "Professor, o que o senhor pediu mesmo?" querendo saber quantas folhas e quantas matrizes eu queria. Antes mesmo que eu pudesse responder, o Davite não suportou e largou: "O professor pede que a gente sente. O professor pede que a gente respeite. O professor pede que a gente se comporte. O professor pede demais!"
Não lembro sinceramente qual foi minha reação a isso, mas creio que não disse nada. Mas é uma situação que sempre guardo com carinho na memória. O Davite podia até não seguir o que eu pedia, mas ele tinha total consciência do que eu queria dele. O meu papel estava feito, ainda que a mim parecesse que não.
Eu estabelecer limites, cobrar regras, avaliar comportamentos... mas não obrigar que ele os seguisse em sua totalidade. Talvez eu tenha feito alguma diferença a ele como ele com certeza fez em mim.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Verão... calor... sol... e trabalho... Parece que essas coisas não combinam, correto?
Você vai pegar o ônibus e ele demora o dobro do tempo pra passar, pois está em "horário de verão", mas seu trabalho continua no mesmo horário velho e ranzinza de inverno...
O centro da cidade continua cheio de gente, mostrando que esse horário de verão não existe pra muitas pessoas, que continuam enfrentando o mesmo pique diário de sempre só que um calor muito maior e uma disposição ao trabalho inversamente proporcional a ele.
Quando trabalho no verão, sempre lembro de um poema do Jacques Prévert, que vi nas minhas longínquas aulas de francês, que reproduzo aqui numa tradução em português:
"Diante de porta da fábrica
O trabalhador súbito pára
O dia lindo o puxa pela roupa
E como ele se volta
E olha o sol
Tão rubro tão redondo
Sorrindo no seu céu de chumbo
Dá uma piscada
Familiar
Diz então camarada Sol
Não achas que é
Uma grande idiotice
Dar um dia como este
A um patrão?"
Gosto muito dessa imagem do tempo bom puxando o cara pra fora do trabalho e o levando para outro lugar... e realmente é isso que a gente sente: como se o sol, o calor, a brisa... tudo nos convidasse a sair, a passear, a sentar preguiçosamente em um parque, a tomar um banho de piscina, ou de praia; e, no entanto, fôssemos obrigados a ficar fechados em um local realizando uma atividade enfadonha.
Engraçado que, no inverno, o enfadonho parace menos enfadonho que no verão... a prisão diária eufemizada na palavra "trabalho" parece, num dia frio e de chuva, mai suportável.
No calor e no dia bom, no entanto, parece que estão nos roubando o mundo, que estamos fechados em uma sala alheios a tudo, deixando o mundo passar lá fora. E, infelizmente, o mundo passa lá dentro também, mas, anestesiados, não sentimos.
"É uma grande idiotice dar um dia como este a um patrão", é verdade... Várias vezes me vejo compelido a me deixar levar pelo tempo bom, a ser carregado por ele para onde ele quiser me levar... mas é impossível: as contas apinhadas na caixa de correspondência, a necessidade de fazer supermercado, a necessidade de conforto meazem doar meu dia lindo a uma sala fechada. Eu chamo de "choque de realidade" apesar de a realidade propriamente dita, neste caso, ser a utopia que deixamos lá fora.