Estava sentado em minha sala de trabalho e entra minha
colega. Notei que ela está com o cabelo diferente. Pensei que tinha feito alguma
escova, hidratação, relaxamento, ou sei lá que nome as mulheres dão a tudo o
que fazem no cabelo. O fato é que estava mais volumoso, maior. Parecia que
estava com bem mais cabelo que o habitual. Falei:
_ Mudou o penteado?
Vi que ela ficou meio sem graça. A gente nunca sabe quando
elogiar uma mulher. Se você não nota o penteado novo, você é insensível... Se
você nota quando não deveria notar, é insensível também... na dúvida peque pela
falta. As mulheres vão pensar: “Os homens não reparam em nada mesmo!” E você se safa pela desculpa do gênero. Pequei
pelo excesso, infelizmente.
Ela então me explicou que havia saído apressada e não havia
tido tempo de dar um jeito no cabelo. Então pegou um creme que prometia dar
volume ao cabelo e passou-o. Segundo ela, o cabelo ficou volumoso e duro. Todos
na escola estavam notando a diferença e ela estava muito incomodada.
O que fazia essa moça com um creme que nunca usara, nunca
testara? Não sei. Mas o fato é que ela tinha.
Sei como ela estava se sentindo. Você põe uma roupa
diferente, não se sentiu bem com ela e todo mundo nota. Se ninguém notar você
fica feliz, pensa: “Estou como todos os dias.” O que, nesse momento, é uma
bênção. Tudo o que você quer é estar igual a todos os dias. Mas você não está.
E as pessoas notam. Você quer sumir. Esconder-se no primeiro vaso de plantas
que exista. Mas tem que erguer a cabeça, seguir em frente e sustentar a
mudança. Por mais difícil que seja às vezes. Entendo perfeitamente.
Mas o engraçado é que a mesma colega sempre me conta que
invejava suas amigas na adolescência, pois tinham cabelos volumosos e o seu era
fino. Sempre quis ter um cabelão, como ela diria, mas não tinha. Nesse dia, no
entanto, ela estava realmente com um cabelão, mas não estava contente com isso.
Havia conseguido o que sempre quisera, mas não estava feliz.
Às vezes é assim... recebemos o que queremos, mas não da forma que
queremos... Ou recebemos o que sempre sonhamos, da forma como sonhamos... mas
descobrimos que na verdade não o queríamos. Isso acontece com aqueles sonhos
meio impossíveis, que sonhamos e
acreditamos não poder realizar... Talvez os queiramos por acreditá-los
impossíveis. Talvez seja realmente um sonho, mas nossa realização idealizada
não condiz com a realidade, quando ela acontece... Mas é interessante pensar
sobre isso.
Perguntada sobre o assunto, a referida colega disse que
queria sim ter um lindo cabelo volumoso, daqueles de propaganda de xampu,
sedoso, esvoaçante. O que ela tinha ganhado, no entanto, era uma juba de leoa arrepiada
(segundo a própria), dura, sem brilho.
É. Nem sempre a vida nos dá o que pedimos da forma como
pedimos. E a gente sorri (quando consegue) e segura no osso. Fazer o quê?