O Natal passou e eu sobrevivi! Era pra ser uma época feliz em que reencontramos antigos amigos, presenteamos aqueles de quem gostamos, confraternizamos... No entanto, assim que passa o Natal, pensamos: “Ufa! Acabou. E eu sobrevivi ao Natal mais um ano!” O que era pra ser bom acaba estressando, deixando-nos nervosos.
Primeiro, no final do ano, seu trabalho aumenta, aumenta a burocracia. E você se vê estressando tentando terminar suas tarefas e começam a convidá-lo para amigo secreto, festinha e o escambau. E você sem o menor pique... Então você se pega aceitando esses convites para não se sentir um ermitão social, pra não ser aquele que nunca vai a nada. E fica lá na festa, ouvindo as mesmas histórias de sempre, vendo as mesmas pessoas de sempre e não conseguindo relaxar porque sabe que aquelas horas perdidas vão fazer você acumular mais coisas pra fazer no dia seguinte.
Fora as compras de Natal! Você, como a maioria das pessoas, deixou tudo pra última hora. Lojas lotadas, acotovelando-se com um monte de gente num shopping por um pacote de castanhas, você se pega pensando se aquilo vale mesmo a pena.
E você entra na maldita tortura. E se pega dando uma chave-de-braço numa velhinha brigando pelo último panetone; ou arrancando um brinquedo da mão de uma garotinha para dar à sua sobrinha; ou rolando no chão com uma mulher gorda pela última barbie da coleção... Creio que os shoppings deveriam oferecer às pessoas nessa época armaduras, escudos, lanças e assumir a verdade: fazer compras de Natal nas vésperas da data é uma justa. Com uma única diferença: na justa, você tem chances de vencer o oponente. Poderiam inclusive pôr placas nas portas das lojas dizendo: “Hoje grande batalha de Natal!” ou “ Duelo pelas ofertas!”
Ou isso ou tentar bancar o “zen”, aquele que não se importa... e dizer pra todo mundo que não vai dar presente pra ninguém, não vai fazer ceia, que o sentido do Natal perdeu-se, que é só mais uma data pro comércio faturar... Apesar de verdadeiro, impossível não é mesmo... Não se pode passar ileso às festas de final de ano.
Eu passei vários natais sozinho, longe da família e descobri a duras penas o Natal, assim como os jogos do Brasil na Copa do Mundo, é inexorável. Fecham lojas, cinemas, não há viva alma na rua, nenhum ônibus... ou você entra no espírito natalino ou amarga a solidão absoluta. E, se você não for daqueles que gosta de trancar-se em casa e meditar no Natal, é obrigado a adequar-se a ele.
Eu já alguns anos acovardei-me e dei-me por vencido. Então dá-lhe amigo-secreto, festinha com os amigos, panetone, castanha, peru... Não sou tão heroico a ponto de enfrentar o mundo.
E, no Ano Novo, com um pouco menos de cobranças, um pouco menos de obrigatoriedade... de repente consigo aproveitar um pouco.... vamos ver.