terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sobrevivi ao Natal

O Natal passou e eu sobrevivi! Era pra ser uma época feliz em que reencontramos antigos amigos, presenteamos aqueles de quem gostamos, confraternizamos... No entanto, assim que passa o Natal, pensamos: “Ufa! Acabou. E eu sobrevivi ao Natal mais um ano!” O que era pra ser bom acaba estressando, deixando-nos nervosos.

Primeiro, no final do ano, seu trabalho aumenta, aumenta a burocracia. E você se vê estressando tentando terminar suas tarefas e começam a convidá-lo para amigo secreto, festinha e o escambau. E você sem o menor pique... Então você se pega aceitando esses convites para não se sentir um ermitão social, pra não ser aquele que nunca vai a nada. E fica lá na festa, ouvindo as mesmas histórias de sempre, vendo as mesmas pessoas de sempre e não conseguindo relaxar porque sabe que aquelas horas perdidas vão fazer você acumular mais coisas pra fazer no dia seguinte.

Fora as compras de Natal! Você, como a maioria das pessoas, deixou tudo pra última hora. Lojas lotadas, acotovelando-se com um monte de gente num shopping por um pacote de castanhas, você se pega pensando se aquilo vale mesmo a pena.

E você entra na maldita tortura. E se pega dando uma chave-de-braço numa velhinha brigando pelo último panetone; ou arrancando um brinquedo da mão de uma garotinha para dar à sua sobrinha; ou rolando no chão com uma mulher gorda pela última barbie da coleção... Creio que os shoppings deveriam oferecer às pessoas nessa época armaduras, escudos, lanças e assumir a verdade: fazer compras de Natal nas vésperas da data é uma justa. Com uma única diferença: na justa, você tem chances de vencer o oponente. Poderiam inclusive pôr placas nas portas das lojas dizendo: “Hoje grande batalha de Natal!” ou “ Duelo pelas ofertas!”

Ou isso ou tentar bancar o “zen”, aquele que não se importa... e dizer pra todo mundo que não vai dar presente pra ninguém, não vai fazer ceia, que o sentido do Natal perdeu-se, que é só mais uma data pro comércio faturar... Apesar de verdadeiro, impossível não é mesmo... Não se pode passar ileso às festas de final de ano.

Eu passei vários natais sozinho, longe da família e descobri a duras penas o Natal, assim como os jogos do Brasil na Copa do Mundo, é inexorável. Fecham lojas, cinemas, não há viva alma na rua, nenhum ônibus... ou você entra no espírito natalino ou amarga a solidão absoluta. E, se você não for daqueles que gosta de trancar-se em casa e meditar no Natal, é obrigado a adequar-se a ele.

Eu já alguns anos acovardei-me e dei-me por vencido. Então dá-lhe amigo-secreto, festinha com os amigos, panetone, castanha, peru... Não sou tão heroico a ponto de enfrentar o mundo.

E, no Ano Novo, com um pouco menos de cobranças, um pouco menos de obrigatoriedade... de repente consigo aproveitar um pouco.... vamos ver.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fechaduras

Chegou em casa. Abriu o portão da garagem com o controle remoto. A imensa grade metálica levantou-se depois baixou deixando para trás um mundo de insegurança. Desceu do carro, apertou o botão do alarme... Caminhou pelos corredores do prédio. Abriu o portão, ao passar trancou-o. Subiu as escadas. Abriu as grades do apartamento, depois as quatro fechaduras da porta. Trancou todas e entrou....
Tirou a roupa, tomou banho, vestiu algo confortável e sentou-se no sofá. Ligou a tevê com o controle remoto. Descansou...
De repente deu-se conta de algo: sua alma, sua essência havia ficado trancada lá fora há várias grades e fechaduras de si mesmo. Descera do carro antes de ele entrar no portão do prédio e correra livre pela rua.
Estava em casa, seguro, trancado... Trancado até de si mesmo.
Estava seguro, agora... porém perdera a si mesmo...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ensopado de nabo


Em tempos mais depressivos, eu via as pessoas na rua, passeando, caminhando, sozinhas ou acompanhadas e julgava que todas elas eram felizes... menos eu... Como se elas fossem pessoas, completas... e eu não passasse de um nabo. Sem gosto, sem cor, sem forma, sem graça, como todo nabo.

Passei anos sofrendo por sentir-me nabo... Puxa! Sou um nabo! E agora? O que faço? Como deixo de ser nabo para me tornar gente?

E vivi anos atrás da resposta...

Até que um dia descobri que nabos não tornam-se gente. Não há magia alquímica que faça um coisa tranformar-se em outra tão diferente. Portanto, estou fadado a ser nabo para o resto da vida.

Mas será que não pode ser legal ser um nabo? Um nabo por si só é um legume arredondado, se cor ou gosto... no entanto, misturado ao sal, a algum tempero, um pouco de carne talvez... podemos ter um gostoso refogado de nabo... ou um bom ensopado, quem sabe.

O problema não é ser nabo, pessoa, animal ou o que for. O problema é sabermos como usar as portencialidades desse nabo/pessoa/animal, é dar a ele um sabor especial.