quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Onze anos cabem em uma caixinha



Onze anos.
Uma vida, diriam alguns.
Onze anos.

Com certeza bastante tempo.

Onze anos trabalhando no mesmo lugar. Onze anos tentando em vão fazer um trabalho decente. Onze anos frustrando-me. Onze anos e tenho a sensação de não ter construído nada. Onze anos e uma sensação de vazio.

Nesses anos todos, vários adolescentes passaram por mim. Tentei ensinar para eles algum coisa. Com certeza aprendi com eles bastante. Não tenho como mensurar o quanto ensinei.

Tentei ao menos.

Da escola onde saio, sobrou apenas uma caixa com livros, que tenho que retirar. Alguns livros velhos, outros mais novos, alguns com a capa soltando de tanto uso. Poucos com algum valor. De onze anos de minha vida profissional, sobraram uns poucos livros que cabem tranquilamente em uma caixa.

Se não valem muito, por que recolher esses livros?, alguém pode se perguntar. Simples, respondo. Para esvaziar meu armário e dar lugar a um novo profissional cuja bagagem em alguns anos também se resumirá a um punhado de livros dentro de um armário.

Com certeza irá para meu lugar alguém. Essa pessoa fará um trabalho muito melhor que o meu. Ou tão bom quanto. Ou um pouco pior... não importa. O que importa é que fará meu trabalho.

Queremo-nos imortais e não somos imprescindíveis... sequer necessários.

Você sai, outro ocupa seu lugar e em muito pouco tempo ninguém mais lembra da sua existência. Onze anos e você passou em branco. Outro ocupa seu lugar e, quando se vê, é como se ele tivesse estado sempre ali. Rouba sua identidade, sua vida, o ladrão. Torna-se você. Ou melhor, torna-se o que você era naquela posição, enquanto ocupava aquele espaço.

Onze anos. É bastante tempo. Mas espero que não seja uma vida e que eu tenha outras conquistas.