sábado, 22 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo e o Natal

Falou-se muito nos últimos tempos no fim do mundo profetizado pelos maias... Falou-se muito. Alguns levaram a sério. Muitos brincaram com isso. Surgiram piadas na internet. Alguns espiritualizados falaram que não seria um fim do mundo, mas o fim de um ciclo, o início de uma nova Era...
E o fim do mundo passou e não há nada de diferente até agora...
Muitos lembraram do ano de 1999, da virada do milênio... que os computadores iriam parar, o tal "bug do milênio" e que isso não ocorreu...
Mas o fato é que o fim do mundo é um tema recorrente no imaginário popular... Muitos fins do mundo devem ter sido profetizados desde que o ser humano adquiriu consciência de que estava vivo e, dessa forma, também consciência de sua finitude.
Espera-se o fim de um mundo... um despertar de uma nova Era... uma força que venha de fora de nós, um poder superior e que mude tudo... Mas talvez esse poder não exista. Talvez o mundo mude sim, com a mudança das pessoas, da vida, da natureza... a passos vagarosos e não em um passe de mágica.
E os apocalipses vêm sendo vaticinados e não acontecendo.
Há inclusive uma música de Assis Valente de 1938 chamada "E o mundo não se acabou" que existe por aí na voz de Marlene, Carmen Miranda, Adriana Calcanhoto, Ademilde Fonseca, Paula Toller, Maria Bethânia... cuja letra é a seguinte:

Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar...
Beijei a bôca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou...
Chamei um gajo
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele
Mais de quinhentão...
Agora eu soube
Que o gajo anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E, vai ter barulho
E vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou...

Na música a pessoa resolve fazer tudo o que queria acreditando no final do mundo... como este não acontece, ela vai ter que sofrer com as consequências desses atos. O fim de tudo era desculpa para fazer o que quisesse. Não haveria dia seguinte para se arrepender. O apocalipse, nesse caso, era também o fim das amarras impostas pelo bom senso, pelo que deve ou não ser feito... Ou seja, já brinca-se com a ideia de fim de mundo anunciado e não acontecido desde 1938 (com certeza bem antes disso também). Não é privilégio de nossos tempos.

Procurando na "Wikipedia" sobre o compositor dessa música, Assis Valente, soube que é dele também a composição da música de Natal preferida de minha infância. Aquele que dizia que:
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.
Era minha preferida por ser triste e eu era melancólico nessa época, tanto que o personagem com quem eu mais me identificava era o sempre depressivo e melancólico "Charlie Brown" . Felicidade não é para todo mundo. Há quem é feliz e quem  é triste. Não há como receber a felicidade.
Eu não me dava conta na época, mas acho que é bom mesmo que a felicidade são seja ganha como um presente de Natal... Ela não vem de fora, não é dada por ninguém. É própria da gente mesmo.

Assim como se espera um apocalipse ou uma profecia Maia para a criação de uma nova Era, para o surgimento de um mundo melhor, espera-se do Natal e do final de Ano um momento de obter perdão, de distribuir amor, de esperar por um ano novo melhor. Acho legal usar o final de ano (ou qualquer outra época) como um momento de reflexão, de pensar no que fizemos e no que deixamos de fazer... De pensar em novas possibilidades. Mas temos que ter certeza de que isso não vai vir de fora da gente, de uma força maior. Essa força vem da gente mesmo. Somos responsáveis por sermos mais felizes, por buscarmos uma vida melhor, por tentarmos ser mais tolerantes (até com a gente mesmo), de lutarmos pelo que queremos.
O apocalipse, se  um dia vier, talvez não seja profetizado...
A felicidade, se nos encontrar um dia, talvez não seja trazida num pacote pelo Bom Velhinho.
E isso não é motivo para tristeza, como dá a entender a música do Assis Valente. É motivo de orgulho. De sabermos que ela foi conquistada. E que a nossa vida se faz de pedacinho a pedacinho.

E, pra quem esperou tantos anos que o Brasil fosse um país do melhor e isso não aconteceu... Para quem viu o país do futuro tornar-se presente, talvez até pretérito, e não ocorrer muita coisa... talvez acreditar no início de uma nova Era seja também  por um milagre que não ocorra, por um presente que não existe.