terça-feira, 13 de abril de 2010

Filho pródigo

Quando eu era criança, ouvia a história do filho pródigo e achava que a palavra pródigo significava "aquele que volta"...
Conta a história que o filho mais novo de um fazendeiro pediu para este dividir seus bens com os filhos, pois queria ir embora. O velho divide os bens e ele parte. Porém perde todos seus bens em seguida e volta pra casa do pai pedindo abrigo. O pai, feliz, manda matar um carneiro para fazer uma festa celebrando a volta do filho. O filho mais velho indaga ao pai o porquê daquela festa. Reclama que para o filho que jogou fora todo o dinheiro da família que lhe foi dado, o pai mata um carneiro, mas para ele, que sempre esteve ali a seu lado, nunca fizera isso. O pai responde que precisava celebrar o filho mais novo que ele contava perdido e recuperara, enquanto o outro sempre estivera ali ao seu lado, não precisava ser celebrado.
Eu achava que ele era pródigo porque voltara para casa, mas o era por ter gastado todos os seus bens. É pródigo por não cuidar daquilo que é seu. A história, como valoriza a volta do filho, não seus atos, me fazia crer que o sentido de "pródigo" era positivo, mas não é.
O que sempre me incomodou nessa história foi a questão do filho mais velho. Concordo que ele erra em se preocupar mais com o carneiro dado ao irmão do que pela volta deste. Mostra-se egoísta nesse aspecto, disso não há dúvidas. Porém a personagem tem uma certa dose de razão. O pai erra por não mostrar ao filho mais velho sua importância. Porque está ao seu lado, porque não tem riscos de perdê-lo, ele não precisa celebrá-lo... e isso não é verdade...
A gente acaba muitas vezes dando valor àquilo que a gente não tem, preocupando-nos com o que nos falta, ou com as grandes aquisições que conseguimos, e esquecemos de valorizar o que está à nossa volta, o que sempre esteve ali ao nosso lado e nos dá sustentação.
O filho mais velho, mesmo estando sempre ali ao lado do pai, também precisa de um carinho, também precisa de um agrado, também precisa ser lembrado do quanto ele é importante. Também necessita ser valorizado. Não é porque não há possibilidades de perdê-lo que ele não necessite de atenção... ou corre-se o risco de tê-lo perdido mesmo ele continuando ali.
O mais novo saiu, gastou tudo, jogou todo o dinheiro fora e voltou pra casa por necessidade, não por amor à família... se seu dinheiro ainda existisse, se tivesse conseguido mais dinheiro em outro lugar, jamais voltaria... só reaproximou-se do pai por interesse. E mesmo assim é celebrado.
Não digo que o pai não devesse receber o filho pródigo de volta. De forma alguma, só creio que ele está celebrando por ter recuperado um filho que perdera, quando, na verdade, não o recuperou, pois este não voltou por saudades do pai, mas pela necessidade de dinheiro.
Como esta, há várias outras fábulas, parábolas e histórias cuja moral me incomoda um pouco, mas dicutirei isso uma outra hora.