terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Mães de telefone

Eu sou professor há uns doze anos em escolas públicas. Trabalho com crianças e adolescentes. E também com muitas professoras. Claro que, assim como eu, existem muitos professores nas escolas, mas o magistério ainda é um meio essencialmente feminino. Nos recreios, eu observava uma professora em especial, uma pessoa muito querida a mim, a professora Ana Maria. Na época ela tinha dois filhos adolescentes (hoje adultos). Na hora do recreio, ela sentava à mesa da sala dos professores, pegava o telefone e ligava para os dois. Nesse ato, cobrava-lhes se haviam arrumado a cama, se haviam feito o trabalho da escola e todas as demais tarefas e obrigações que eles possuíam para aquele dia. Eu brincava com ela que ela era uma “mãe de telefone”.

Como minha colega, existem por aí muitas mães de telefone. Não estão em casa o dia inteiro, chegam em casa apenas à noite exaustas, porém possuem todas as obrigações daquela mãe que ficava apenas em casas cuidando do lar e dos filhos (e já não era pouco). Elas não estão mais ali ao lado dos filhos, ajudando no tema, cobrando que lave atrás da orelha, que arrume aquela bagunça que eles chamam de quarto e assim por diante. No entanto, estão altamente presentes, seja por telefone, por bilhetes na casa, por e-mails... As mães saíram de casa, mas seus olhos continuam por todos os lados, onipresentes, acompanhando o que os míopes olhos paternos deixam passar despercebido.

Todos nós, tenho certeza, carregamos nossas mães dentro da gente, mesmo que ela não esteja mais neste mundo. Ouvimos até hoje, mesmo adultos e independentes, suas vozes dentro da gente nos dizendo o que devemos ou não fazer, o que é certo e o que é errado. Temos nossas mães dentro da gente como uma espécie de norte. Rebeldes, podemos renegar tudo o que essa voz nos diz, fazer completamente o opostos, é uma escolha nossa, mas ela existe, ela está lá, dentro da gente, até hoje, com seus olhos fixos, cuidando, amparando, vigiando.

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