quinta-feira, 10 de setembro de 2015

TAC, TAC



Há um relógio na sala. Paredes brancas, vazias. Você está sozinho. Bem, você e o relógio. Ele te faz companhia. Tac, Tac. A cada segundo um pequeno barulho, que nem seria ouvido em uma outra situação, mas ali, sem nenhum som, sem nenhuma outra distração, torna-se ensurdecedor. Você cuida aqueles segundos irem passando um a um e não pode fazer nada. Primeiro você pensa que o tempo está se esvaindo, cada vez mais segundos, minutos, horas, dias se passam e você não consegue fazer nada. E você se desespera. “O tempo passando e eu aqui parado nesta sala vazia olhando para um relógio enquanto eu poderia estar fazendo mil outras coisas?” Mas você não pode. Depois de um tempo, que você não sabe precisar quanto, você para de se preocupar com isso. Você até quer que o tempo passe, assim cada vez menos você precisará ficar refém daquele Tac, Tac  interminável.  Por fim, tudo torna-se indiferente. Passem ou não passem aqueles segundos, você estará ali. E você para de olhar para o relógio. Melhor, você continua ali olhando para ele, mas para de vê-lo. E se você estivesse em outro lugar, fazendo outras coisas? O tempo passaria diferentemente? Os segundo escoariam da mesma maneira, implacáveis. Ao fim e ao cabo, não importa o que fizesse estariam só vocês dois sozinhos de qualquer maneira: você e o Tempo.
Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac,
E sua vida.
Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac,
Você e ele.
Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac, Tac,
E se aquilo parasse? Tudo acabaria?
E se você o ignorasse? Impossível?
E se você não o ignorasse, mas não se importasse mais tanto? Será que aquele imenso relógio na parede não estaria fazendo você tirar o foco do resto da paisagem? E no fundo aquela sala nunca esteve vazia. Havia móveis, quadros, objetos que você nunca havia percebido porque tudo o que você focou na vida foi o relógio.
Enfrente o relógio e TAC! um mundo se abre a sua volta como o barulho de uma fechadura que se destranca.
Utopia? Sim. Mas a função das utopias é serem perseguidas, mesmo que nunca alcançadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário