quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Chama o Alves!






Esses dias, peguei um Uber e eu sempre puxo assuntos aleatórios com a pessoa. Sou tímido e acho que viajar no carro de um desconhecido muito esquisito. Puxando assunto, parece que, por aqueles minutos, ganha-se uma impressão de amizade com a pessoa.  Claro que, se eu puxar assunto e a pessoa não der prosseguimento, eu me calo.
Uma vez, eu peguei  um carro com um garoto que tinha um nome que poderia gerar duas leituras. Tipo “Pedro Wilson”. Eu entrei no carro e perguntei: “Eu te chamo de Uilson ou de Vilson? Ele respondeu de forma seca: “Nenhum dos dois: ninguém me chama por esse nome.” Calei-me o resto da viagem.
A maioria entra na conversa.
Voltando ao início da frase inicial do  texto, esses dias, peguei um Uber e, nesse desenrolar de aleatoriedades, o motorista me contava que trabalhara anteriormente com liberação de carros que haviam sido guinchados.
 Eu indaguei como ele fazia para manter-se calmo, visto que, normalmente, quem teve seu carro guinchado, mesmo que tenha dado motivos, vai chegar lá furioso, seja porque perdeu um compromisso, seja porque teve que perder seu tempo indo até lá, pagar uma taxa...
Ele me respondeu que, muitas vezes, as pessoas chegavam bem irritadas mesmo e que ele tinha que ser calmo e firme. Dizer: “O senhor vai ter que pagar a taxa e voltar aqui que eu libero o veículo.” E não dar mais conversa. E que às vezes, como único homem no momento, ele ainda tinha que ajudar as funcionárias mulheres no manejo com esses sujeitos irritadiços.
“E você nunca esteve numa situação em que a pessoa estava tão nervosa, que você não deu conta?”, perguntei. Tratava-se de um sujeito baixo, gordinho. A mim não parecia conseguir impor-se tanto com um sujeito muito grande.
Ele me contou  então que em algumas vezes a coisa apertou muito, que ele teve que ligar para um amigo dele e perguntar se ele estava próximo. Quase invariavelmente esse sujeito estava próximo e ia até lá. Tratava-se de um policial militar chamado Alves, um sujeito de dois metros de altura e grande como um armário.  E o Alves resolvia a situação para ele e intimidava o esquentadinho.
Desse conto malazártico do motorista do Uber, fiquei pensando que, na vida, poderíamos ter a opção de chamar o Alves algumas vezes. E o sujeito gigante apareceria lá e nos tiraria de nossa situação de risco. Teríamos então mais segurança na vida. Nos lançaríamos em empreitadas mais ousadas. Se não desse certo? Chama o Alves que ele resolve!
Eu digo, usando termos do muay thai, que na vida, ultimamente, tenho achado que, metaforicamente, se chegar não tão perto é soco; se chegar perto demais é cotovelada. Um conhecido brincou comigo que de longe um bom rifle resolve.
Talvez um rifle imaginário e eliminar o que te incomoda, deixar de se preocupar com aquilo, resolva. É uma idéia.
Chamar nosso Alves interior e nos posicionarmos firmemente em nossas posições, sem claro desrespeitar o Alves alheio. Lembrar sempre que cada um tem seu Alves interno e que, às vezes, fazer eles se digladiarem não resolve nada.

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