Saudades do tempo em que te perguntavam se podiam dar o troco de bala...
Nunca pensei que iria sentir saudades de uma pouca vergonha desse tipo, confesso. Mas hoje nem mais a bala querem te dar de troco.
Outro dia, entrei numa dessas lojas de posto de gasolina, caríssimas, mas que estão abertas tarde da noite e às vezes quebram um galho. Peguei duas ou três coisinhas e dirigi-me ao caixa. A moça do caixa passou os itens no leitor e me disse:
_ Deu nove e cinquenta e sete... Ahnnn... Dez reais!
Desde quando, pensei eu, indignado, nove e cinquenta e sete são dez reais! Se fossem nove e noventa e sete eu até aceitaria, meio a contragosto e talvez até brigasse por uma moeda de cinco. Mas uma coisa é as lojas te embolsarem um, dois centavos porque as moedas de um centavo não existem mais. Outra coisa é a moça querer me assaltar em quarenta e três centavos! Aí é querer gozar com a minha cara!
Eu fico pensando se é só para mim que cinquenta centavos (já que não existem mais moedas pequenas) é dinheiro. Se cinquenta centavos virou nada. Se essa mesma moça do caixa diz isso para outras pessoas e elas aceitam caladas, como se fosse normal te sonegarem um troco com o qual eu poderia comprar, por exemplo, uns dois cacetinhos... Daqui a pouco ela vai estar dizendo:
_ São onze reais... quer dizer... vinte reais!
Ou, pior:
_ São onze reais.... Ahnnn... Cinquenta reais! - ditos com um sorriso ingênuo na cara.
Aonde vamos parar?
Outra coisa que me incomoda: se os mercados sabem que não existem mais moedas de um centavo, porque os preços dos produtos ainda são "sete reais com noventa e nove centavos", "doze reais e um centavo" e coisas do tipo. Se, na verdade, no caixa, na hora de pagar, esses sete e noventa e nove vão se converter em oito, e esses doze e um podem, para alguns, virar doze e cinco? Será que as pessoas ainda olham algo de sete e noventa e nove como algo de sete e pouco, ou seja, algo bem diferente de oito? Se esse um centavo não existe na hora de te dar troco, porque ele é importante no preço do produto? Será que esse um centavo hipotético é importante para o consumidor na hora de olhar o preço, mas não o é na hora de receber o troco?
E os mercados lucram com essa dualidade do consumidor, que olha para um cinco e noventa e oito como muito diferente de seis, mas, na hora do troco, pensa "são só dois centavos, não vale nada mesmo". Será que as pessoas pensam assim?
Os grandes mercados, hoje em dia, transformaram esse um centavo inexistente em doação para alguma entidade assistencial ou hospital. Se for mesmo para essas entidades, acho até justo. Mas, como não tenho tanta certeza, aceito dentro dos limites. Um centavo, dois, eu doo. Três centavos? Aí eu quero uma moeda de cinco! Três é mais próximo de cinco do que de zero. Até eu, ignorante completo em matemática, sei disso. E digo "desculpe-me, mas três centavos eu não doo".
Mesmo que esses centavos vão para as entidades... por que são os meus dois centavos que são doados para essa entidade por um mercado bonzinho e preocupado com as desigualdade sociais? Por que eles não doam os centavos deles, que com certeza lucram muito mais que eu?!
Não que eu ache errada a ideia do "dar o pouco que se tem a quem tem menos ainda". Acho corretíssimo. A questão é: sou eu que devo doar meu dinheiro. E não um mercado doar o dinheiro por mim e ainda se passar por bonzinho. "Olha como o supermercado X é legal. Doa os centavos dos outros para entidades assistenciais"... É meio estranho.
Doo meus dois centavos com maior prazer esperando que ajude alguém, mas me incomodo com o fato de grandes empresas usarem essa falta de moedas para se promoverem socialmente.
Bem, para encurtar a história, voltando à cena da moça que queria me levar quarenta e três centavos. Como eu ia pagar com cartão de débito, não falei nada, apenas alcancei a ela o cartão. Se ela digitasse dez reais ali, eu diria:
_ Desculpe-me, senhora, mas o que você digitar aí vai sair da minha conta em exatamente o mesmo valor. Não gerará troco. Então eu quero que a senhora digite o valor exato da compra.
Mas não precisou. Ela digitou diretamente o valor exato e eu paguei e saí.
Mas saí indignado.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Bah!! No sábado fui a padaria e levei todas as minhas moedas e o valor da compra deu 5,46 e e eu dei o valor exato e o senhor do caixa disse: "olha só pagando até o 0,01 centavo". Achei graça e respondi "é que hj assaltei meu cofrinho", e realmente foi verdade tive que catar minhas moedinhas para fazer a compra. Por isso, vamos fazer a campanha do TROCO CERTO. Afinal, nunca se sabe quando vamos precisar de 0,01. bjs
ResponderExcluirPois é... o cara te cobra o 1 centavo que ele próprio não tem pra te dar de troco. É muito complicado. Não dá pra aceitar.
ExcluirBeijo, Carla. Obrigado pelo comentário.